Canelite

NESTA PÁGINA, VOCÊ VAI SABER

A canelite, conhecida tecnicamente como Síndrome do Estresse Tibial Medial (MTSS – Medial Tibial Stress Syndrome), é uma dor comum e muitas vezes incapacitante que afeta principalmente atletas, com destaque para corredores e praticantes de esportes de alto impacto. Representa uma das lesões por sobrecarga mais frequentes nos membros inferiores. Sem um diagnóstico e tratamento adequados, a canelite pode progredir, limitando severamente o desempenho atlético, interrompendo treinos e, em casos mais graves, evoluindo para fraturas por estresse. No entanto, com a implementação de estratégias de cuidado, prevenção e reabilitação eficazes, é totalmente possível aliviar a dor, alcançar a recuperação completa e retornar à prática esportiva de forma segura e sustentável.

Conheça mais detalhes sobre canelite e, se necessário, marque uma consulta com um de nossos médicos do esporte em São Paulo

O que é?

A canelite, ou Medial Tibial Stress Syndrome (MTSS), é uma condição inflamatória caracterizada por dor ao longo da borda interna ou anterior da tíbia (o osso da canela). Essa inflamação afeta os músculos (como o Tibialis Posterior, Soleus e Tibialis Anterior), tendões e o periósteo (a membrana que reveste o osso) onde esses músculos se inserem na tíbia. É considerada uma lesão por sobrecarga, resultante de estresse repetitivo no osso e nos tecidos moles circundantes.

Quais as causas?

A canelite é tipicamente uma lesão de uso excessivo, desencadeada por uma combinação de fatores que aumentam a carga sobre a tíbia:

  • Sobrecarga de exercícios: Um aumento rápido e excessivo na intensidade, volume ou frequência do treinamento (o princípio “too much, too soon”). Isso inclui aumentar subitamente a quilometragem na corrida, introduzir treinos de velocidade ou correr em subidas/descidas íngremes.
  • Corrida em superfícies duras ou irregulares: Asfalto, concreto ou terrenos acidentados aumentam o impacto absorvido pelas pernas.
  • Calçado inadequado ou desgastado: Tênis que não oferecem amortecimento, suporte ou estabilidade suficientes para o tipo de pé e pisada do indivíduo, ou que estão no fim de sua vida útil, comprometem a absorção de impacto.
  • Desalinhamento biomecânico: Fatores como pronação excessiva (pé “caindo” para dentro), supinação (pé rígido que não prona o suficiente), pé chato (pes planus), pé cavo (pes cavus), discrepância no comprimento das pernas, fraqueza muscular (especialmente de Tibialis Anterior, Tibialis Posterior, músculos do quadril e core) e falta de flexibilidade (principalmente nos músculos da panturrilha) podem alterar a distribuição de forças e aumentar o estresse na tíbia.

Quais os sintomas?

O sintoma principal é a dor localizada ao longo da borda interna ou anterior da tíbia.

  • A dor geralmente começa durante a atividade física, pode diminuir à medida que o corpo aquece, mas frequentemente retorna ou piora após o término do exercício.
  • Em casos mais avançados, a dor pode ser constante, presente mesmo em repouso ou ao iniciar o dia.
  • Sensibilidade ou dor ao toque direto na área afetada da tíbia.
  • Leve inchaço na região pode ocorrer.
  • A dor é tipicamente difusa, cobrindo uma área maior (geralmente > 5 cm) ao longo da tíbia, o que a diferencia de uma fratura por estresse, que causa dor pontual em uma área menor (< 5 cm).

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da canelite é primariamente clínico, baseado na história detalhada do paciente (tipo de atividade física, histórico de lesões, progressão dos sintomas) e em um exame físico minucioso. Durante o exame físico, o profissional de saúde palpará a tíbia para identificar a localização e extensão da dor e sensibilidade. Testes de movimento e força muscular também podem ser realizados. Exames de imagem não são necessários para confirmar a canelite em si, mas podem ser solicitados para descartar outras condições com sintomas semelhantes, como fraturas por estresse, tendinites ou síndrome compartimental crônica por esforço. Radiografias podem ser úteis para excluir fraturas óbvias, enquanto uma cintilografia óssea ou ressonância magnética são mais sensíveis na detecção precoce de fraturas por estresse ou para avaliar o grau de inflamação do periósteo e dos tecidos moles.

Tem cura?

Sim, a canelite tem cura. Com um plano de tratamento adequado, paciência e adesão às recomendações, a grande maioria dos casos se resolve completamente. A recuperação envolve não apenas tratar os sintomas, mas também identificar e corrigir as causas subjacentes (como ajustes no treino, calçado e biomecânica) para prevenir a recorrência.

É grave?

A canelite em si não é uma condição grave no sentido de risco à vida, mas pode ser extremamente dolorosa e limitante, impedindo a prática esportiva e atividades diárias. Se ignorada e não tratada, a inflamação crônica e o estresse repetitivo na tíbia podem levar a complicações mais sérias, como a evolução para uma fratura por estresse da tíbia, que exige um período de recuperação muito mais longo e complexo. Portanto, embora não seja grave inicialmente, sua progressão pode levar a lesões graves.

Quais os tratamentos?

O tratamento inicial para canelite geralmente segue o protocolo PRICE (Protection, Rest, Ice, Compression, Elevation) ou RICE (Rest, Ice, Compression, Elevation), adaptado para Protection.

  • Repouso relativo: Reduzir ou interromper a atividade que causa dor. Substituir por atividades de baixo impacto (natação, ciclismo) que não causem dor.
  • Gelo: Aplicar compressas de gelo na área dolorida por 15-20 minutos, várias vezes ao dia, para reduzir a inflamação e a dor.
  • Compressão: O uso de bandagens ou meias de compressão pode ajudar a reduzir o inchaço.
  • Elevação: Manter a perna elevada acima do nível do coração quando estiver em repouso para ajudar a diminuir o inchaço.
  • Medicamentos: Analgésicos e anti-inflamatórios de venda livre (como ibuprofeno) podem ser usados para aliviar a dor e a inflamação, sob orientação médica.
  • Fisioterapia: Essencial para fortalecer os músculos da perna, melhorar a flexibilidade, corrigir a biomecânica e desenvolver um plano de retorno gradual às atividades.
  • Órteses/Palmilhas: Podem ser recomendadas para corrigir problemas de pisada ou arco do pé.
  • Em casos persistentes: Injeções de corticosteroides (pouco comuns para canelite pura), terapias por ondas de choque ou, raramente, cirurgia podem ser consideradas.

Perguntas frequentes

Quais os autocuidados para canelite?

Medidas de autocuidado incluem:

  • Repouso: Diminuir a carga de treino.
  • Gelo: Aplicar gelo regularmente.
  • Alongamento e fortalecimento: Seguir um programa consistente.
  • Uso de calçados adequados: Dentro e fora do treino.
  • Massagem: Massagear suavemente a área dolorida pode ajudar a relaxar os músculos.
  • Compressão: Usar meias ou bandagens.

Como prevenir a canelite?

A prevenção é fundamental, especialmente para atletas. Algumas medidas incluem:

  • Progressão gradual do treino: Aumentar a intensidade, duração ou frequência dos exercícios lentamente (regra geral de não aumentar mais de 10% por semana).
  • Usar calçados adequados: Escolher tênis apropriados para o tipo de esporte e o seu tipo de pé, trocando-os regularmente quando estiverem desgastados.
  • Fortalecimento muscular: Fortalecer os músculos da panturrilha (gastrocnêmio, sóleo) e, crucialmente, o tibial anterior, que ajuda a absorver o impacto.
  • Alongamento: Manter os músculos da panturrilha e da frente da perna flexíveis.
  • Avaliação da biomecânica: Consultar um profissional para avaliar a pisada e a mecânica da corrida, podendo ser necessário o uso de palmilhas ortopédicas.
  • Treino em superfícies macias: Preferir superfícies como grama, terra ou pistas de atletismo.
  • Aquecimento e desaquecimento: Sempre aquecer antes do exercício e alongar após.

Quais exercícios são recomendados para quem tem canelite?

Inicialmente, exercícios de baixo impacto (natação, ciclismo, elíptico) são indicados para manter a forma física sem sobrecarregar a canela. Uma vez que a dor diminui, o foco é fortalecer os músculos da perna:

  • Elevação de calcanhar: Fortalece gastrocnêmio e sóleo.
  • Elevação de ponta do pé: Fortalece o tibial anterior (essencial!).
  • Exercícios com faixa elástica: Para resistência do tornozelo em todas as direções.
  • Exercícios de equilíbrio: Melhoram a estabilidade do tornozelo e pé.

Quais alongamentos recomendados para quem tem canelite?

Alongar os músculos da panturrilha é crucial:

  • Alongamento de panturrilha com a perna esticada: Foco no gastrocnêmio.
  • Alongamento de panturrilha com a perna flexionada: Foco no sóleo.
  • Alongamento do tibial anterior: Pode ser feito ajoelhado, com os pés para trás, ou puxando o peito do pé em direção à canela.
  • Manter o alongamento por 20-30 segundos, repetindo 2-3 vezes.

Qual o tênis indicado para quem tem canelite?

Um bom tênis deve oferecer:

  • Bom amortecimento: Para absorver o impacto, especialmente no calcanhar e na parte frontal do pé.
  • Suporte de arco adequado: Que corresponda ao seu tipo de pé (pronado, supinado, neutro). Uma avaliação da pisada pode ser útil.
  • Flexibilidade adequada: A parte frontal deve permitir a flexão natural do pé.
  • É importante trocar o tênis a cada 500-800 km de corrida ou anualmente, dependendo do uso.

Meia de compressão ajuda na canelite?

Sim, meias de compressão podem ajudar na canelite. Elas promovem a circulação sanguínea, reduzem o inchaço e podem fornecer um suporte adicional aos músculos da panturrilha, diminuindo a vibração e o estresse durante o impacto.

Para canelite, deve-se usar gelo ou calor?

Para a canelite, o gelo é geralmente mais indicado, especialmente na fase aguda ou após o exercício. O gelo ajuda a reduzir a inflamação, o inchaço e a dor. O calor pode ser útil em casos crônicos antes do alongamento para relaxar os músculos, mas deve ser usado com cautela se houver inflamação ativa.

Quem tem canelite pode fazer musculação?

Sim, a musculação é permitida e até recomendada, desde que não cause dor na canela. Exercícios de fortalecimento para o core, quadril, joelhos e tornozelos são benéficos para melhorar a estabilidade e corrigir desequilíbrios musculares que podem contribuir para a canelite. Exercícios de perna que não gerem impacto direto na tíbia (como leg press, cadeira extensora ou flexora) podem ser feitos, evitando atividades como saltos ou corrida na esteira.

Qual o CID?

O Código Internacional de Doenças (CID) mais utilizado para a Síndrome do Estresse Tibial Medial (canelite) é M76.8, que se refere a “Outras entesopatias do membro inferior, exceto do pé”. Especificamente, algumas classificações podem usar M76.8×2 (referindo-se à região tibial).

Conclusão

A canelite é um desafio comum para atletas, mas com conhecimento e as estratégias certas, é totalmente superável. Entender as causas, reconhecer os sintomas precocemente e seguir um plano de tratamento adequado, incluindo repouso, fisioterapia e correção dos fatores predisponentes, são passos cruciais para uma recuperação completa e um retorno seguro e sem dor ao esporte.